Aquela mulher desde de cedo já se mostrava transtornada, e ao mesmo tempo ingênua. Ingênua na medida em que não tinha ideia do resultado dos seus atos, era uma inconsequente! Cabelos negros, sorriso convidativo, olhos azuis: Disparos contra o coração.
Na loucura dela, o mundo se enche de alegria, e ela me deixa nervoso. Na minha loucura o céu azul não faz diferença e nunca fez, nada faz diferença. Na loucura dela tudo é tão simples e errado, ela sabe que precisa de mim observando-a, seguindo-a, desejando-a, ela sabe que precisa disso, ela sabe que isso faz da vida dela algo especial. Na minha loucura não consigo tirá-la da cabeça, e fico me perguntando o tempo todo como aconteceu? Como você chegou até mim? Sob que forma? Sob quais circunstâncias? Como você chegou assim, necessitando tanto de mim, que acabo me sentindo ainda mais, necessitado de ti!
A medida que o gelo do meu uísque derrete, me arrependo do fundo da alma por ter pedido minha dose com gelo. Condeno aquele maldito cubo de gelo, que transforma meu uísque em água, fraco, gelado, quase não posso sentir o gosto. Viro tudo num único gole encorajador e vou na direção dela. A conversa fluí melhor do que eu esperava, é uma mulher que realmente gosta de falar, ela fala de mais, ela me enlouquece de tanto que fala! Me obrigo a beijá-la, assim para de falar, e beijar aqueles lábios era o que eu mais queria naquele momento. Apesar de toda minha loucura, beijo muito bem, acredite. Fomos até o bar e pedimos uma dose de uísque, ela me obrigou a pedir com gelo, pois achava muito forte sem gelo. São pequenas coisas como essas, que se acumulam no meu cérebro, elas vão se acumulando e acumulando, e cada vez mais, até que o Louco abre os olhos. Meu corpo é uma prisão pra ele, o Louco, que na realidade sou eu mesmo, tentando me ausentar de culpa, pelas loucuras que cometo, mas depois de um certo tempo as coisas foram acontecendo, e eu já nem me sentia tão culpado assim. Logo eu estava chato e bêbado, olhos semi-abertos, palavras cuspidas da minha boca já não faziam mais tanto sentido, maldito alcool, nem mesmo o gelo, foi capaz de diminuir os efeitos, maldito gelo, é por isso que o odeio. A mulher se afasta de mim com um grito e atravessa o bar, do outro lado me provoca levantando sua saia, colocando o dedo na boca, se insinuando, promíscua, aquela mulher tão linda não passava de uma louca.
Na loucura dela eu era apenas um idiota bêbado, que queria transar, mas isso só até o momento em que a necessidade dela em mim estava adormecida naquele corpo de belas curvas. Na minha loucura, iria segui-la ao sair dessa festa, e talvez ela me deixasse subir ao seu apartamento. Na loucura dela eu não teria coragem para segui-la. Na minha loucura, esperava o momento em que saísse. Na loucura dela, saiu do bar. Na minha loucura, fui atrás.
As ruas a noite me dão o tom laranja que nunca espero ter, aumentado 10 vezes pelo efeito embaçado dos meus olhos embriagados, que junto ao movimento do meu corpo a medida que dou passos silenciosos atrás dela, fazem com que as luzes da cidade dancem ao som da minha loucura. Ela percebe que estou seguindo-a, grita algo, e continua caminhando em ritmo normal, sem medo de nada, nem haveria o que temer, eu a protejeria de tudo e de todos. Pra minha surpresa, ela morava em uma casa, gosto de casas, essas mulheres solteiras sempre moram em apartamentos, essa morava numa casa, seria um vestígio de loucura? Não, claro não, loucura mesmo era entrar e deixar a porta aberta, esperando que eu entrasse, esperando que fizesse tudo o que quisesse com ela dentro daquela casa, esperando amanhecer, só esperando. Sou homem, sei o que fazer, sei tratar uma mulher, mas uma louca é diferente sabe? Uma louca exige-se mais cuidados, ela pode estar esperando com uma faca atrás da porta, ou simplesmente estar nua na cama. Loucas são imprevisíveis. Entrei na casa esperando o pior, mas lá estava ela sentada no sofá, me esperando, ela duvidou da minha coragem, da minha ousadia, e isso eu não podia perdoar, espero que ninguém ouça seus gritos, espero que ninguém a ouça chorar…
Abraceraaa!