Era um belo fim de tarde de verão. O jovem passou radiante em meio as tendas dos peruanos que tocavam flautas e vendiam pulseiras e brincos de suas aldeias. Segurando um lindo buquê de flores brancas e vermelhas, o jovem transbordava alegria através do sorriso e do brilho nos olhos pelas ruas que passava, e contagiava a todos, um senhor falou:
– Hey rapaz, não namore muito hein! O jovem retribui com um sorriso e continuou seu caminho até a casa da amada.
A banca estampava o jornal com notícias do verão e as belas praias que estavam lotadas de gente, o futebol que chegava na final do campeonato, o dia dos namorados e inúmeras sugestões de presentes para a pessoa amada, um assassinato de uma garota em algum bairro qualquer, as eleições que teriam início no próximo mês. Mas nada disso importava para o jovem que seguia sorrindo. Cabelos loiros e olhos azuis, a barba feita e o cabelo bem cortado, parou em uma joalheria, abriu a carteira e pegou as notas de dinheiro que havia guardado. Comprou um lindo anel para sua querida.
Uma senhora viu o jovem saindo da loja e sorriu. Sabia que ele estava apaixonado.
Continuou. Algumas garotas ficaram observando-o e deram algumas risadinhas quando ele se foi. Passou pela praça onde alguns velhos senhores esperavam o fim jogando milho seco as pombas, alguns casais apaixonados conversavam animadamente sentados nos bancos de madeira enquanto o chafariz jorrava a água a alguns metros a cima, fazendo minúsculas gotículas de água refrescarem aquele final de tarde quente de verão.
Ele não pode deixar de imaginar sua amada colocando o anel no dedo e em seguida abraçando-o com lágrimas de felicidade nos olhos, dizendo que o amava, uma imagem tão real que ele parou de caminhar. O coração disparou naquele momento. E se ela não gostasse do anel? E se fosse cedo demais? Poderia estar comentendo um erro…
Olhou para o céu e viu os tons azuis escuros e rosados, misturando-se com o alaranjado das nuvens. Amava ela mais que tudo e sabia que ela sentia o mesmo por ele. O grito de uma menina que brincava correndo atrás das pombas fez seus pensamentos sumirem, e voltou-se a andar. Colocou a mão direita no bolso do casaco apertando o anel e seguiu em frente.
Começava a escurecer e as luzes dos postes começaram a ligar em sequência, iluminando as poucos cada esquina da cidade. O jovem andava tranquilamente quando um casal caminhava no sentido contrário, ao passarem pelo jovem a mulher cutucou forte o braço do marido e disse:
– Você tinha a mesma aparência quando era jovem e apaixonado. Agora está sempre com a cara fechada.
O homem balançou a cabeça negativo. A esposa sabia que a única coisa mais bela que os fins de tarde de verão era o amor dos jovens.
De repente o jovem parou em frente a uma casa. Avistou uma garota se despedindo dos pais que saíam arrumados para algum provável jantar ou festa. Esperou os dois sairem e entrou pelo portão branco de madeira, seguiu a passos rápidos, mas cuidadosos, ainda com a mão direita no bolso onde segurava o anel, na esquerda o buquê de flores. Empurrou a porta semi aberta e entrou na casa. Uma jovem garota entrou na sala e parou surpresa.
– Olá amor, olhe só o que eu trouxe para você. – Sorriu mostrando as florês.
A jovem, sem entender arqueou as sobrancelhas e deu um passo para trás. O rosto radiante do jovem deu lugar a um olhar arregalado, começou a tremer e a respirar ofegantemente.
Como poderia ser? Ela estava estranha! Estava se afastando!
– Lucia! Por que você está fazendo isso comigo? – Gritou ele olhando para os lados parecendo tentar entender o comportamento dela.
– Meu nome não é Lucia! Quem é você seu louco? – Disse a moça assustada.
O jovem pulou no pescoço da garota, apertando com as duas mãos, e o som abafado que saía da boca da moça era ouvido apenas no próprio pensamento dela, que tinha como última visão os olhos raivosos do jovem e os dentes cerrados, a paixão deu lugar a loucura, e quando a moça parou de se debater e arranhar o rosto dele, a soltou e jogou as flores em cima do corpo, o anel, colocou no próprio dedo onde já havia um outro, e saiu pela escuridão da noite. A respiração ofegante deu lugar a uma expressão indiferente, e ele seguiu pelas ruas iluminadas pelos postes, todos com suas lâmpadas ligadas.
A banca estampava o mesmo jornal com notícias do verão e as belas praias que estavam lotadas de gente, o futebol que chegava na final do campeonato, o dia dos namorados e inúmeras sugestões de presentes para a pessoa amada, um assassinato de uma garota chamada Lucia na noite anterior, estrangulada, provavelmente pelo namorado rejeitado, seu corpo coberto de flores em algum bairro qualquer, as eleições que teriam início no próximo mês. Mas nada disso importava para o jovem que voltou a seguir.
O mesmo casal que passará por ele a poucos minutos atrás voltava, e a esposa deu outro cutucão no marido. Ela sabia que a única coisa mais bela que os fins de tarde de verão era o amor dos jovens.
Abraceraaa!