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Atenção! História baseada em fatos reais.
Eu estava brincando de carrinho na frente de casa quando encontrei meu eu do futuro, eu tinha 15 anos, o ano era 2005.
– Pequeno Diego, você continua brincando com carrinhos? Porra, 15 anos na cara e brincando com carrinhos? – Eu confesso que não sabia o que dizer, fiquei petrificado. Ali, na minha frente, estava eu com uns 25 anos na cara, o cabelo estava curto com um belo topete, uma barba de respeito, bem vestido e com um olhar profundo, de quem já viveu muita coisa nessa vida.
E eu achando que nunca nasceria barba nessa cara.
– Pequeno Diego, eu vim do futuro para lhe dar uns conselhos sabe, sobre as mulheres. Por que por incrível que pareça meu guri, de burro você só tem a cara, as orelhas e o jeito de andar…
– Eu… Digo, você… Nós. Bem nós, comemos gente no futuro? – Perguntei inocente.
– HAHAHAHAHA! – Riu o Diegão do futuro, caminhou até a minha direção, ainda com o sorriso feito no rosto, e colocou a mão no meu ombro, ele era um pouco maior que eu.
– Não te apressa, primeiro tu precisa fazer o juramento.
Meus olhos brilhavam enquanto eu olhava para ele, ou pra mim…
– Bah pequeno Diego, eu sei que esse cabelão aí que tu tem é muito fodástico, às vezes ainda sinto saudade dele, mas infelizmente tu vai ter que cortar.
– Sério? Mas por quê? Ah, tudo menos o cabeloso!
– As garotinhas da escola curtem, mas tu só vai começar a comer gente quando cortar essa gadeia. Ergue teu braço direito e repete.
O JURAMENTO
– Eu, sabiamente seguirei os ensinamentos que eu mesmo inventei no futuro para o resto da minha vida. Jamais, em circunstância alguma, ficarei mal por causa de alguma mulher, afinal, olha quantas tem por aí, se for o caso de alguém ficar mal, que sejam elas por minha causa. Jamais ficarei correndo atrás de alguma mulher, se for o caso de alguém ficar correndo, que sejam elas atrás de mim. Jamais ficarei escrevendo poeminha e cartinha de amor, se for o caso de escrever, que seja num blog foda, bergamotas ou algo assim… Jamais ficarei pagando jantinha e cineminha pras garotas, se for o caso de gastar uma grana, que seja com motel. Jamais, de forma alguma, beberei por causa de uma mulher, se for o caso de beber, que seja com os amigos. Amém.
Eu repeti tudo, e naquela noite combinamos de ir para a estação. Eu coloquei um all star com os cadarços soltos e uma flanela toda amassada, a cara estava meio oleosa, o zíper meio aberto, se não me engano o que bombava era o galeria essa época…
– MEU DEUS GURI! – Eu do futuro gritei puto da cara, e saímos para a noitada.
– Tu já bebe? Não lembro com que idade comecei a beber.
– Ah bebo uns ice na YES, Curaçau com Sprite nas festinhas da escola.
– Aqui vai à primeira dica: Bebidinha de viadinho não!
Entramos no Mississippi, e logo percebi umas mulheres se molhando para mim, só que na verdade não era pra mim, era pro eu do futuro.
– Tá vendo pequeno Diego, nem precisei fazer nada, só por ter barba já chamei atenção. Quando brotar barba nessa cara deixe crescer, essa é a segunda dica. Você pode fazer ela uma vez por semana pra não ficar igual um mendigo.
Eu guardando todas as informações na cabeça.
– Tu já começou a escutar Elvis? – Me perguntou, e eu pude ver o brilho nos olhos dele, esperando que eu respondesse que sim.
– Eu curto Sex Pistols, Ramones, Clash… Elvis é muito antiquado.
– Ahhhhhhh! – Gritou o eu do futuro, mas logo se recompôs. Ajeitou a jaqueta e o topete, e calmamente me explicou:
– Olha só pequeno Diego, o Elvis é o Rei. Ele sabia tudo sobre as mulheres, todas elas o queriam. Tua acha que o Joey Ramone comeu quantas mulheres na vida? Umas 50 só. O Elvis se duvidar tem mais de 4 dígitos de mulheres comidas na conta dele.
Mas 50 é um bom número.
– Não perde o foco. Tá vendo aquelas duas ali? – Apontou para dois corpos. Uma era a mulher mais gostosa da festa, peitão, bundão, loira, de vestidinho justo, lábios carnudos, olhos claros, demais! O outro corpo parecia o predador (o cabelo era igual). Essa é a terceira dica: às vezes nos sacrificamos pelos amigos.
Ele, digo, eu do futuro, comecei, digo, começou a conversar com a mulher, e logo pegou o broto. Eu olhava para o predador. Foi um baita filme, o Schwarzenegger havia tido uma baita atuação, quem sabe eu seguisse seu exemplo, E METESSE UM TIJOLAÇO NA CABEÇA DESSA LOUCA! De qualquer jeito, até o predador me esnobou, e nem me deu bola.
– É pequeno Diego, agora vamos pro teu estádio, um lugar onde tenha mais gurizadinha nova, aqui tem muita tia, é muita areia pra ti… AINDA! – E começou a rir, eu saquei a graça.
Saímos do Bar e fomos pra Cantina, um bar que era tipo um porão. Cheio de menininhas. Esbarramos num piá cabeludo, loiro, meio narigudinho. Percebi que o eu do futuro o reconheceu, mas ficou gelo.
– Ok, eu não posso interferir em nada da sua vida, mas posso te dar conselhos ok. Não me pergunte resultados da mega sena ou coisas do tipo. A quarta dica é a seguinte, nunca minta sobre alguma mulher, tipo: “Ah eu peguei cinco mulheres ontem, ou, comi duas na mesma noite”. Ainda mais para os seus amigos. Seja verdadeiro sempre, apenas seja você, mas de preferência um pouco mais engraçado que isso.
Vi uma roquerinha linda dançando. Ela era simplesmente perfeitinha demais, parecia um anjo dançando balé nas pontas dos pés, flutuando no meio de toda aquela gente de preto, amor a primeira a vista.
– É só um brotinho Dieguinho, como todas as outras ao redor. Não tem nada de mais nela. Um dia tu vai começar a ouvir Cazuza e vai sacar o lance, nem te estressa. Mas, vá lá, chega nela, sem se apegar é claro! A quinta dica: brinde o desapego.
Ouvi suas palavras e fui confiante no brotinho. Cheguei nela e dei oi. Perguntei seu nome. Ofereci uma bebida. Dancei junto. E levei um fora. Voltei triste.
– Sexta dica: saiba levar um fora numa boa, às vezes é até legal chegar nas mina só pra levar fora, depois tu pega uma na frente dela. Agora se recomponha e chegue em outra. – E foi o que eu fiz. Cheguei numa mais comunzinha e peguei. Voltei correndo.
– Ah viu só Diegão do futuro? Peguei o broto! Tá 1×1 agora hein! HAHAHA.
– Caralho, inegável que esse piá de merda sou eu – Falou o eu do futuro e me deu uma cerveja, uma polar, que desceu doce. Não que seja correto dar bebida a menores.
Saímos do bar e sentamos nos trilhos. A luz laranja dos postes, misturando com o cinza da rua e o preto do céu contrastando com os telhados faziam um show de luzes, e o cascalho no chão gritando de dor cada vez que alguém pisava nele, machucando, cruéis, insensíveis!
– Acho que fiquei bêbado – Falei.
– A sétima dica é aproveitar estes momentos, de boemia e solidão. O lance poeta da coisa sabe? A vida é muito mais do que fazer alguma coisa que deixe seus pais orgulhosos, às vezes o momento que você entende algo é o momento que você está contemplando o nada, sacou? Tu vai sofrer por causa de algumas mulheres pequeno Diego, sinto muito. Mas aí vai chegar uma hora que tu vai rir do que passou, e vai aprender com todas as coisas que você fez errado. Vai se tornar um homem de verdade.
Eu, digo, ele, me ajudou a levantar e voltamos para casa.
Voltei imaginando onde o eu do futuro teria estacionado a máquina do tempo. O que teria feito com que eu inventasse uma máquina do tempo no futuro? Eu teria mesmo inventado essa máquina?
– Tu roubou de quem essa máquina do tempo? – Perguntei desconfiado, trupicando no cordão e caindo liso no chão.
– É uma longa história – ele seguiu falando sem me ajudar a levantar- O nós mais do futuro ainda, de uns 50 anos me procura. Aí ele me conta que casou com uma mulher e quando se divorciou ele ficou tão puto que virou um cientista muito foda, e inventou a máquina do tempo para poder voltar e não pedir a mulher em casamento. Mas isso não vem ao caso agora. Aqui vai última dica: não case.
Chegamos em casa. Eu deitei na cama completamente sonolento, embriagado. Olhei pra o eu do futuro uma última vez e adormeci. No dia seguinte acordei num pulo. Corri pela casa procurando por mim mesmo. Fui lá fora e nada. Atrás de casa nem sinal da máquina do tempo. Fiquei triste. Então voltei para o meu quarto vi algo em cima do rádio, senti minhas pernas e braços tremerem, o coração disparou, era um CD. Segurei-o em minhas mãos, e pude ler na capa dourada a palavra mágica e um bilhete:
Abraceraaa!