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bar, caxias do sul, cerveja, festa, lenda, noite, sangue, sexo, show, steinhaeger, steinheger, terror, vagao, Vagão Bar, vampira, vampiro
Meados de 2009 na estação. Observávamos o movimento do outro lado da rua. Eu já meio bêbado, fiz questão de alarmar:
– Vou mijar! – Gritei. Bem na hora em que duas garotas, embaladas a vácuo em vestidos curtos, desfilando em direção ao La Barra, me olharam enjoadas.
– VOU ME JÁ! – Fiz questão de esclarecer, já abrindo o zíper atrás do container de lixo amarelo. O verde seria para o número dois, em últimos casos. Enquanto urinava, maravilhosamente, por uns dois minutos ininterruptos, avistei uma guria de cabelos vermelhos na fila do Vagão Bar.
BAH que merda, vou ter que entrar.
Era uma época em que eu me interessava por mulheres estranhas e de nomes estranhos – mas os nomes eram mera coincidência. Por um lado era bom, por que caso eu esquecesse o nome da guria, eu tinha a desculpa de que era um nome bosta. Enfim, balancei, fechei o zíper, acabei a cerveja e atravessei a rua.
Logo na fila já trocamos olhares. Ela tinha olhos verdes contornados de preto, os lábios pintados de um batom vermelho sangue, a pele bem clara. Fiquei feliz, carne branca é sempre bem vinda, até por questões de saúde…
Ao entrar, fui dançando até o bar, estalando os dedos.
– Me vê aí um Schwarzenegger. – A guria do bar já puxou a garra de Steinhaeger pela metade (a outra metade eu havia bebido em outras noites) de baixo do balcão… Cliente fiel.
Me dirigi até a sacada e fiquei olhando a gurizada no outro lado da rua, sentados no chão me dando tchau, mostrando o dedo do meio e fazendo uma gritaria que eu não conseguia entender. Ao me virar, notei que a garota de cabelos vermelhos estava bem do meu lado.
Me escorei com um dos pés na parede e ajeitei o topete. Pensei até ter sentido o cheiro de calcinhas molhadas. Ela veio falar comigo.
– Oi Elvis. – Voz suave.
– Oi mulher. – A benga arrastando no chão.
Ofereci bebida e ela aceitou. Talvez tenha pensado que era água, pois virou num gole só. Não fez nem aquela carinha de nojo que a gente faz depois de descer uma dose de tequila.
– Nossa tu é forte pra bebida hein, aguentou de boa.
Ela chegou bem perto e sussurrou no meu ouvido.
– Eu aguento tudão. – Me arrepiando até pelo que não tinha.
Tocava Elvis de trilha sonora.
– Conhece a dancinha do Elvis? – Perguntei já batendo pata e estalando os dedos, o topete e as costeletas em formação me denunciavam.
– Quem sabe tu me ensina essa dança lá em casa. – Quase engasguei com a safadeza. Mas achei estranho, as gurias de Caxias são todas fazidas, primeiro tu tem que conhecer até o porquinho da índia do primo de quinto grau da tia do cunhado do vizinho pra depois, talvez, quem sabe, pensar em algo além de beijo na boca. E olha que beijo na boca é coisa do passado.
– Ah, beleza, quando quiser ir pra tua casa, vamos, te ensino a dança lá. – Falei tentando disfarçar a emoção. Nessa hora cortaram o Elvis, e uma banda de hard rock começou a fazer barulho no palco.
Parecia Bon Jovi. A guria ficou do lado do palco curtindo a banda enquanto eu a olhava. Usava um jeans com rasgos nas pernas, um all star vermelho pra combinar com o cabelo e uma regata preta, destacando os belos seios pelo decote. No refrão ela me abraçou lateralmente, e ficamos pulando, sua pele era fria.
Quando a música acabou fomos até o bar pegar mais bebida. A guria era um amor de pessoa. Me contou que não era de Caxias, e sim de uma cidadezinha do interior do interior. Que visitou Paris, Londres e Roma nos anos 40, que viveu a época rockabilly dos anos 50, foi hippie na década de 60, punk em 70 e poser nos anos 80. Falou também que havia morado em mais de 100 países diferentes, apesar de ter só 18 anos.
Olha só, a guria mentindo pra tentar me conquistar. – Pensei inocente.
Só que do nada, a guria mudou. Parou de falar e fechou a cara, até pensei que tinha falado alguma merda… Passaram-se alguns minutos e ela disse que iria pra casa, e se eu quisesse ir com ela, era agora ou nunca. Eu fui.
Ela me entregou a comanda e me esperou na descida da escada, tive que pagar a minha e a dela. Descemos e entramos num táxi, ela tirou do bolso um papel e me entregou, era o endereço. Falei pro taxista que confirmou com a cabeça, era longe pra caralho.
Espero que pelo menos o táxi ela me ajude a pagar.
– Noite agradável né? – O taxista tentou quebrar o silêncio.
– Boca fechada! – Disse ela, grosseira. Só observei. Quando chegamos, ela desceu do táxi e sobrou pra mim pagar.
E eu que, na sacada do Vagão, achava que ia transar de graça.
Ela já foi entrando em casa sem me esperar. Eu indo atrás, mas já com vontade de mandá-la a merda. Quando entrei na casa, a porta bateu atrás de mim, fechando sozinha.
***
Estranhei a casa sem janelas. Também não havia luz, somente algumas velas acesas, já quase derretidas em cima de pires, espalhadas pela casa. Um cheiro de incenso dava um clima pesado no ambiente, e era possível ver alguns móveis que pareciam bem antigos e formatos de quadros nas paredes.
– Não pagou a luz? – Ela nem respondeu. Fui até o banheiro que ficava logo a direita da porta por onde entramos. Levei o celular para iluminar a privada, mas fiquei com medo.
Vai que balanço o celular e guardo o pau no bolso.
Ao sair do banheiro fui me guiando pelas sombras dos móveis até um quarto onde ela esperava de pé ao lado da cama, nua, com o belo corpo iluminado pela luz de uma vela pequena em cima do criado mudo. Dei uma boa olhada.
– Eu não queria falar nada, mas, além de gostosa, tu é bem mal educada, mulher.
– Deita. – Mandou apontando pra cama.
E eu deitei. Ela veio por cima de mim num piscar de olhos, e o seu cheiro me deixou em transe, enquanto sussurrava no meu ouvido palavras em uma língua estranha. Achei aquilo assustador, mas só fiquei apavorado mesmo quando vi as unhas que cresciam afiadas daquelas mãos geladas, rasgarem minha roupa. Eu não podia morrer jovem!
O povo da Terra pode precisar de mim.
Tentei me mexer, mas não consegui, era como se ela tivesse me enfeitiçado. Me olhou sorrindo e foi então, que enormes caninos brotaram da sua boca e seus olhos ficaram completamente negros. Com uma voz demoníaca, ela disse:
– Vou beber todo o teu sangue e depois, jogar o teu corpo no meu porão, pra apodrecer junto com os outros carinhas. – Deu uma risada diabólica me fazendo tremer de pavor, para em seguida, falar com a voz suave.
– Ah não ser que tu seja muito bom de cama.
No outro dia, tive que voltar pelado pra casa.
Abraceraaa!